“Nossas palavras e o uso da IA podem acalentar ou ferir; a escolha revelará nosso caráter e intenção.”
Sílvia Piva*
A tecnologia e a sua evolução veloz reconfiguram a textura do nosso cotidiano. Com tais ferramentas — potentes, capazes de remodelar a nossa existência e as nossas interações —, o peso da responsabilidade aumenta. No universo da inteligência artificial generativa, essa responsabilidade também é um “fardo coletivo”.
Buscamos um roteiro, um manual, um conjunto de instruções passo a passo que nos diga como utilizar essas ferramentas avançadas. No entanto, quando se trata de IA generativa, tais instruções precisas não existem, ao menos por enquanto. Assim como um explorador diante de um território não mapeado, precisamos aprender a encontrar o nosso caminho seguro nessa jornada.
Sim, a regulamentação da IA é necessária e é algo que devemos desejar e trabalhar em seu favor. No entanto, antes que tais normas sejam formalizadas, há um papel crítico que todos nós, criadores, desenvolvedores e usuários de IA, devemos desempenhar. Somos os pioneiros, os primeiros a caminhar por esses mares desconhecidos e, como tais, as ações e decisões que tomamos agora ajudarão a moldar a paisagem futura quanto ao uso adequado desses sistemas.
Para os criadores e desenvolvedores, há uma responsabilidade que deveria ser intrínseca e inevitável, no sentido de disponibilizar ferramentas seguras e adequadas para uso: um crivo ético, responsável e de governança que toda empresa séria deve buscar. Ao mesmo tempo, devem fornecer o máximo de transparência possível, permitindo que os usuários compreendam os mecanismos de suas criações. Este é um passo essencial para construir confiança, especialmente em um campo tão complexo e ainda mal entendido como a inteligência artificial.
Para os usuários, a incumbência reside no manejo consciente dessas ferramentas em suas rotinas, evitando qualquer prejuízo decorrente de suas ações. É preciso se alinhar aos padrões éticos e expectativas comuns, promovendo esforços para instaurar uma cultura de uso responsável e informado dessas tecnologias emergentes.
A verdade é que não estamos apenas navegando pelo desconhecido, mas também desenhando uma nova rota, que será seguida por outras pessoas, conforme avançamos. Cada ação que executamos e cada decisão que tomamos está contribuindo para a formação de uma cultura de uso da IA. Daí a importância de uma consciência coletiva sobre como a inteligência artificial generativa deve ser usada para beneficiar as nossas relações, tendo em vista a nossa responsabilidade com uma sociedade que não deve sofrer os prejuízos de nossas ações concretas.
Por isso, se faz necessário que escrevamos juntos esse “manual” de uso coletivo da IA, considerando cada passo que damos e cada decisão que tomamos. Porque a IA, mais do que uma ferramenta, é um reflexo de quem somos como sociedade. Temos hoje, portanto, a oportunidade de garantir que tudo isso seja um espelho da nossa melhor versão.
*Movida pela conexão de saberes e pela inquietude, Silvia Piva é advogada, professora e fundadora da Nau d’Dês. É Doutora e Mestra em Direito pela PUC-SP e integra os times de pesquisadores da PUC-SP, FGV-SP e Instituto Legal Grounds.
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