Sílvia Piva*
Esta frase do filósofo e linguista Ludwig Wittgenstein tem reverberado em meus pensamentos. Usamos — de humanos para humanos — a linguagem para comunicar, compartilhar ideias, sentimentos e experiências. Agora, estamos também usando a linguagem para uma espécie de jogo com as inteligências artificiais generativas: uma linguagem humano-IA.
Nossa interação com a IA nos coloca face a face com nossos próprios limites linguísticos. Comunicar-se de maneira eficaz com essas inteligências artificiais nos desafia a desenvolver uma linguagem que seja adequada para essa nova forma de interação. Assim, a diversidade e profundidade da nossa linguagem pode enriquecer as interações entre humanos, mas sobretudo entre humanos e IA.
Nessa interação, vamos (ainda) notar que a IA tem a capacidade de replicar a linguagem humana, mas não tem a experiência do mundo como nós. Por mais complexos que sejam os padrões de linguagem que consiga replicar, a IA não possui a vivência que dá à linguagem humana o seu significado mais profundo.
O insight de Wittgenstein, no entanto, nos oferece uma poderosa lente por meio da qual podemos entender essa dinâmica. Isso porque a linguagem molda a maneira como percebemos e interagimos com o mundo, e isso vale para humanos e para os sistemas inteligentes.
A IA, com a geração de sua linguagem sintética, está criando seu próprio tipo de “mundo”, que é limitado pelo que o sistema foi treinado para “conhecer”. E neste jogo de linguagem, nos encontramos como participantes envolventes, navegando nas novas realidades criadas pela linguagem humano-sintética e refletindo sobre suas implicações filosóficas e ao novo contexto emergente.
Para aprofundar o assunto
Em 2021, publiquei um ensaio sobre a simbiose homem-máquina e as limitações da linguagem para elucidar os fenômenos da era digital. Agora, com o boom do ChatGPT e outros modelos sintéticos de linguagem, a reflexão está ainda mais atual. Você pode lê-lo aqui.
*Movida pela conexão de saberes e pela inquietude, Silvia Piva é advogada, professora e fundadora da Nau d’Dês. É Doutora e Mestra em Direito pela PUC-SP e integra os times de pesquisadores da PUC-SP, FGV-SP e Instituto Legal Grounds.
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